terça-feira, 17 de novembro de 2009

Morrer para si é decisão.






“Todos os meus temores se realizam, e aquilo que me dá medo vem atingir-me. Não tenho paz, nem descanso, nem repouso; só tenho agitação.” Jó 3,26
Por Rafaela Carvello
Sempre sonhei com uma pequena casa no campo. Longe da agitação e dos ruídos da cidade. Um lugar onde se pode ouvir o ruído do vento a tocar na folha das árvores e onde se dá para acordar e caminhar pela grama molhada do orvalho da madrugada. A casa não precisaria de luxo, portas e janelas de madeira, com cadeiras de descanso na entrada. Cozinha com fogão a lenha, e o cheiro de café fresco e pão de queijo assado. A materialização desse sonho seria a personificação de minha personalidade, ter uma casa distante do mundo moderno, é fruto de uma pessoa que não gosta muito de platéia. Ou do flash das máquinas fotográficas, do frenesi dos carros, buzinas, cheiro de poluição. No entanto, quando se escolhe viver os sonhos de Deus, aprende-se a despojar de si mesmo e a viver com aquilo que o pai deseja. Sempre desejei o sossego, e a cada dia me percebo envolvida em milhares de compromissos, muitos atendimentos de oração, muito aconselhamento, curas, libertações, o povo se encontra machucado. Como dizer não a uma mãe que perdeu o filho? A um casal em crise? A uma jovem que fez aborto e se arrependeu? Não, não há como fugir. Quando olho para a dor do outro percebo que mesmo que tivesse minha casa no campo, teria uma alma inconformada, não preciso do descanso em terra, mas sim do descanso eterno. Há uma humanidade que caminha sem rumo, por um século em depressão. “Jovens que vendem seus corpos por poucos trocados”, famílias destruídas, banalização dos sacramentos, comércio com o que é sagrado, pessoas ludibriadas, consumistas, endividadas. Dor, choro e ranger de dentes. Quando deito sou capaz de escutar seus gritos de ajuda, por isso, fecho meus olhos por instantes e peço a Deus que me permita ajudá-los, que me permita ser uma oblação perfeita a sua vontade, peço que me dê forças e me encha de sabedoria, porque sou humana, rezo para que meus ouvidos lhe escute todos os dias e que meus olhos não desejem o que não pode ser meu.Não tenho uma casa no campo, mas moro em um quarto cedido por um familiar, não acordo pisando descalço na grama, mas correndo pelo assoalho de madeira para não perder a aula e depois o Grupo de Oração na Universidade. A cozinha não tem fogão à lenha, mas microondas que esquenta mais rápido e me permite resolver os problemas em menor tempo. Na entrada da casa não há cadeiras de descanso, mas um alto portão de ferro, que tranco quase todas as tardes ao sair para alguma nova missão. Apesar de não ter realizado todos os meus sonhos pessoais, sou feliz, por que me sinto realizada com as realizações e conquistas dadas por Deus, e que no fundo são muito maiores que meus mais altos sonhos. É preciso morrer para mim todos os dias, pois só assim chego mais perto do céu.

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