segunda-feira, 28 de junho de 2010

Orar a própria afetividade




 
Para que tenhamos nossos afetos ordenados, necessariamente devemos recorrer, não somente aos meios terapeuticos, que é muito recomendável. Mas para nós que queremos fazer um caminho de fé, que nos leva não somente a uma ordem afetiva, mas a um encontro pessoal com o Senhor, que me conhece e tudo sabe de mim. Preciso utilizar as vias ordinárias que a Igreja me recomenda, que são os Sacramentos a Direção espiritual e uma vida assídua e constante de Oração.
Recomendo nestas linhas abaixo, um modelo que pode ser favorável neste percurso de oração. Não é o único, mas seguido de forma coerente e atenciosa, com certeza te favorecerá muitos frutos nesta área.
Para isto siga atentamente os devidos pontos. E boa oração, bom encontro consigo mesmo e com o teu Senhor.
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Para iniciar encontre um lugar que seja trânquilo, silencioso e arejado, para que você possa rezar, e desta maneira estar presente no Eterno Presente.
Procure assim entrar em oração pacificando todo o teu ser, corpo, alma, mente e sentidos. Estando sentado ou de joelhos, vá inspirando e expirando calmamente, de modo profundo até sentir a quietude, a serenidade e a paz interior.
Desta forma, se apre¬sente ao teu Senhor na tua realidade e mais profunda verdade, isto é, sem máscaras, assim como você se encontra neste momento: condi¬ções físicas, psíquicas, estado de ânimo, desejos espirituais... e acolha o silêncio, afastan¬do de ti todo temor e inquietação.
Vai  tomando consciência da presença do teu Senhor. Você não está sozinho, ou sozinha. Deus nosso Pai e criador olha para você com amor, desinteressado, Ele te aceita como tu es e te escuta atentamente.

Peça ao Espírito Santo que venha estar contigo, que Ele seja o inspirador e o sustento de tuas orações, peça a Ele a graça da oração do coração e a ordem de todos os teus afetos.
Neste momento, procure lembrar de uma imagem, cena ou frase que lhe ajude a entrar neste profundo diálogo com o Senhor. E deixe brotar a petição muito vital que você traz no coração.
Após esses "preâmbulos", tome os seguintes "pontos" para o teu diálogo com o Senhor, em um ou vários tempos de oração:
• Imagine o olhar de Deus sobre tua realidade afetiva
• Será um olhar de reprovação ou de descon¬fiança?
• Um olhar de frieza e de desinteresse?

• Ou o olhar de Deus é um olhar de amor e de alegria, como o profeta nos relata (Is 62,5), de misericórdia e compaixão (Lc15,2)?
• Um olhar de Pai que também é maternal, que res¬peita a tua liberdade e que quer te ajudar a viver em plenitude!
• Olhe bem para o terreno em que você está pi¬sando!
• Apresente ao Senhor o teu desejo de buscar esta harmonia interior.
• Mostre-O as áreas da tua afetividade que mais precisa ser tocada.
• Peça-O com humildade a graça da cura e o ordenamento afetivo.

Faça a partir de agora tua oração, com as respostas que está surgindo no teu coração.
Examine bem o sentido de tuas relações humanas. Observe se estas relações estão sendo regidas por um claro projeto de vida: seja ela familiar, profissional ou religiosa.
Esse projeto de vida é mesmo um projeto de amor? Você tem conseguido viver esse projeto com paz e alegria, sem interesse pessoal, mesquinho?

Faça tua oração com as respostas que lhe ocorrem.
Atualmente as pessoas ocupam, os primei¬ros lugares na tua afetividade? Você as faz subir ao "podium" do teu afeto? A quem você daria a "medalha" de ouro, de prata e de bronze?
Essas pessoas lhe trazem harmonia e equilíbrio para tua vida? Elas te ajudam a viver e a concretizar o projeto de vida, com dinamismo e alegria? Ou essas relações privilegiadas complicam a tua vida, freando, digamos assim o teu crescimento huma¬no e espiritual?
Continue tua oração com as respostas que o Senhor lhe sugerir.
Quando você concluir cada momento de oração, procure no silêncio do teu coração dialogar mais pessoalmente com o Senhor, oferecendo-Lhe, tuas conclusões e pedindo-Lhe confirmação do que lhe parece ser realmente da Sua vontade.
Uma vez que você passou este tempo de confronto e de conhecimento interior. Dirija agora o teu olhar no olhar do Pai, do Filho e na compainha do Espírito Santo, neste movimento trinitário, deixe o louvor brotar do teu coração.
Para terminar, agradeça ao Senhor por Ele ter te criado, te sustentado e te doado vários dons e pelas maravilhas que Ele fez em você e através de você.
Agradeça-O pelo teu corpo, pela tua inteligência, pelo teu estado de alma e pelo caminho que você já percorreu até hoje, e também pelo caminho que Ele está te convidando a percorrer. Que é um percurso de auto-conhecimento que te favorecerá muito na tua conversão e no teu progresso de santificação.
Para encerrar  se volte para Maria e aos teus santos padroeiros, e num só coro reze a oração que o próprio Cristo nos ensinou.

Pe. Martinho Maria de Porres, F.M.D.J.
Promotor Vocacional

terça-feira, 15 de junho de 2010

Acordar. Levantar. Estudar. Trabalhar. Dormir.


Por Rafaela Carvello

Acordar. Levantar. Estudar. Trabalhar. Dormir. Acordar. Levantar. Estudar. Trabalhar. Dormir. A rotina! Tão intensa e esmagadora que rouba dos homens a capacidade de pensar diferente dos padrões impostos por ela. Andar de ônibus, por exemplo, faz parte da rotina diária de milhares de brasileiros, que em sua grande maioria, se espremem, se encostam, esbarram, entre os bancos, os ferros de apoio e os corpos estranhos...tão alheios ao mundo a sua volta. Se sentem tão a margem dos benefícios sociais que encontrar um assento vazio é sinônimo de sorte. Sentar então, sinônimo de esperteza. Não percebem o menino que carrega os livros escolares, não observaram o rosto do motorista, e nem sequer sabe explicar com detalhes as ruas  do trajeto do veículo, mesmo o fazendo todos os dias, porque no fundo nunca o observaram direito.

Mas o ônibus oferece uma oportunidade singular: a de se desligar da vida envolta com seus padrões e dificuldades e ir além. Deixar se balançar em cada curva e arrancada do motorista atrasado e exercer a capacidade que é tão nossa que ninguém é capaz de roubar desde que seja dito _ pensar. A diferença entre o caminho certo e o errado é nula, pois ambos são caminhos com começo, meio e fim. Entretanto, a diferença está na escolha. E é a escolha que distingue o certo do errado. E a escolha depende do pensamento, da articulação de idéias.  Ao se formular pensamentos se redescobre a si mesmo, suas capacidades e limitações. Fernando Pessoa escreveu: “Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? Ser o que penso? Mas penso tanta coisa! E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!

O pedreiro que chegou em casa e matou a esposa após desconfiar de uma traição sem provas concretas, fez a escolha do caminho errado. Não aceitou as explicações da mulher. Era macho! A culpa é da televisão que fica colocando essas idéias de “norminha” na cabeça de mulher casada. E lugar de mulher que tem marido é dentro de casa com os filhos. Em nenhum momento ele pensou no inicio do namoro, do amor que sentia, da vida a dois, a três, quatro e cinco com a chegada dos filhos. Nada. O sentimento afetivo ofusca os olhos para a verdade. É o falseamento de que a emoção dá lugar à razão. O que as pessoas não sabem é que a comunidade científica já provou que razão e sentimento são indissociáveis. Nós somos todo razão e emoção. O coração não bate sem o cérebro. Quando sentimos calafrios ao estarmos apaixonados o sentimos porque nossos olhos viram e enviaram uma mensagem sináptica ao encéfalo.

Se o pedreiro tivesse pensado possivelmente deixaria o afetivo um pouco de lado e refletiria sobre o amor efetivo, que nada mais é do que o amor que se doa, perdoa e esquece a mágoa. É o amor que não “carece de explicações”, como bem disse Rubem Alves, apenas se ama. Nádia, de apenas 15 anos, engravidou do namorado também menor de idade. Descobriram a novidade após dois meses e meio de gravidez. Ele quis que ela abortasse, pediu, chorou, implorou. A menina ficou pensativa. Era o seu futuro. E os seus pais?Como uma adolescente não sabe que deve se prevenir? Um absurdo esses namoros de hoje em dia! Após dias de indecisão e após refletir bastante se decidiu por prosseguir com a gestação e ter a criança, mesmo sem o apoio paterno. Será que ela decidiu certo ou errado? Hoje após dois anos do nascimento de Davi a garota afirma que apesar das responsabilidades o menino preencheu o espaço vazio deixado pela morte do avô dois meses após seu nascimento.

Escolher essa é a grande arte da vida. Escolher entre a vida e a morte, ficar velho ou retardar a terceira idade, amar ou odiar, prosseguir com um namoro sem futuro ou partir para outra, acreditar em Deus e se lançar em missão ou acomodar-se na certeza de um mundo laico e cheio de imperfeições.  Escolher ônibus correto para não errar no caminho e a janela pela qual os pensamentos fluem, sem é claro, ser engolido pela rotina se esquecendo de observar os “estranhos” que diariamente partilham da mesma realidade que você faz toda diferença.