terça-feira, 15 de junho de 2010

Acordar. Levantar. Estudar. Trabalhar. Dormir.


Por Rafaela Carvello

Acordar. Levantar. Estudar. Trabalhar. Dormir. Acordar. Levantar. Estudar. Trabalhar. Dormir. A rotina! Tão intensa e esmagadora que rouba dos homens a capacidade de pensar diferente dos padrões impostos por ela. Andar de ônibus, por exemplo, faz parte da rotina diária de milhares de brasileiros, que em sua grande maioria, se espremem, se encostam, esbarram, entre os bancos, os ferros de apoio e os corpos estranhos...tão alheios ao mundo a sua volta. Se sentem tão a margem dos benefícios sociais que encontrar um assento vazio é sinônimo de sorte. Sentar então, sinônimo de esperteza. Não percebem o menino que carrega os livros escolares, não observaram o rosto do motorista, e nem sequer sabe explicar com detalhes as ruas  do trajeto do veículo, mesmo o fazendo todos os dias, porque no fundo nunca o observaram direito.

Mas o ônibus oferece uma oportunidade singular: a de se desligar da vida envolta com seus padrões e dificuldades e ir além. Deixar se balançar em cada curva e arrancada do motorista atrasado e exercer a capacidade que é tão nossa que ninguém é capaz de roubar desde que seja dito _ pensar. A diferença entre o caminho certo e o errado é nula, pois ambos são caminhos com começo, meio e fim. Entretanto, a diferença está na escolha. E é a escolha que distingue o certo do errado. E a escolha depende do pensamento, da articulação de idéias.  Ao se formular pensamentos se redescobre a si mesmo, suas capacidades e limitações. Fernando Pessoa escreveu: “Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? Ser o que penso? Mas penso tanta coisa! E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!

O pedreiro que chegou em casa e matou a esposa após desconfiar de uma traição sem provas concretas, fez a escolha do caminho errado. Não aceitou as explicações da mulher. Era macho! A culpa é da televisão que fica colocando essas idéias de “norminha” na cabeça de mulher casada. E lugar de mulher que tem marido é dentro de casa com os filhos. Em nenhum momento ele pensou no inicio do namoro, do amor que sentia, da vida a dois, a três, quatro e cinco com a chegada dos filhos. Nada. O sentimento afetivo ofusca os olhos para a verdade. É o falseamento de que a emoção dá lugar à razão. O que as pessoas não sabem é que a comunidade científica já provou que razão e sentimento são indissociáveis. Nós somos todo razão e emoção. O coração não bate sem o cérebro. Quando sentimos calafrios ao estarmos apaixonados o sentimos porque nossos olhos viram e enviaram uma mensagem sináptica ao encéfalo.

Se o pedreiro tivesse pensado possivelmente deixaria o afetivo um pouco de lado e refletiria sobre o amor efetivo, que nada mais é do que o amor que se doa, perdoa e esquece a mágoa. É o amor que não “carece de explicações”, como bem disse Rubem Alves, apenas se ama. Nádia, de apenas 15 anos, engravidou do namorado também menor de idade. Descobriram a novidade após dois meses e meio de gravidez. Ele quis que ela abortasse, pediu, chorou, implorou. A menina ficou pensativa. Era o seu futuro. E os seus pais?Como uma adolescente não sabe que deve se prevenir? Um absurdo esses namoros de hoje em dia! Após dias de indecisão e após refletir bastante se decidiu por prosseguir com a gestação e ter a criança, mesmo sem o apoio paterno. Será que ela decidiu certo ou errado? Hoje após dois anos do nascimento de Davi a garota afirma que apesar das responsabilidades o menino preencheu o espaço vazio deixado pela morte do avô dois meses após seu nascimento.

Escolher essa é a grande arte da vida. Escolher entre a vida e a morte, ficar velho ou retardar a terceira idade, amar ou odiar, prosseguir com um namoro sem futuro ou partir para outra, acreditar em Deus e se lançar em missão ou acomodar-se na certeza de um mundo laico e cheio de imperfeições.  Escolher ônibus correto para não errar no caminho e a janela pela qual os pensamentos fluem, sem é claro, ser engolido pela rotina se esquecendo de observar os “estranhos” que diariamente partilham da mesma realidade que você faz toda diferença.




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